Campo de Batalha

Paisagismo

A Recuperação Paisagista

A intervenção paisagística realizada desde 2007 permite hoje aos visitantes a circulação por todo o terreno, sem cortes ou interrupções, entre o Centro de Interpretação e as “covas de lobo”, passando pela Capela de São Jorge. Possibilita-se um percurso lógico e coerente, de forma a tornar clara e perceptível a leitura do território onde se travou a Batalha de Aljubarrota em 1385.

Antes da Classificação como Monumento Nacional

Antes da classificação do Campo de Batalha de Aljubarrota, em 2001, como “monumento nacional”, foram permitidas actividades com grande impacto visual e nada consentâneas com a memória e dignidade deste lugar histórico. Exemplo disso foi a utilização de terrenos para usos como os seguidamente apresentados:
Utilização de terrenos para depósito de lixo e de automóveis abandonados, no local onde durante a Batalha de Aljubarrota se localizou a ala direita do exército português.

Estas utilizações e construções clandestinas contribuíram para a deterioração deste lugar. Não existia também a preocupação com a recuperação e valorização da paisagem deste Campo de Batalha, nem com a criação de condições que justificassem a vinda de um número significativo de visitantes.

Por estes motivos, embora a Batalha de Aljubarrota seja considerada como uma das quatro principais batalhas medievais em toda a Europa, devido às suas vertentes militares, políticas e diplomáticas, este lugar histórico foi praticamente ignorado até à sua classificação em 2001. Existia até então um Museu Militar, mandado construir pelo Exército Português por iniciativa do Gen. Manuel Themudo Barata, com a colaboração do Cor. Francisco Sousa Lobo na preparação dos seus conteúdos, aquando da comemoração dos 600 anos da Batalha em 1985. Este Museu Militar recebia cerca de 4.000 visitantes por ano, sobretudo de escolas.

Por este lugar histórico ter estado praticamente abandonado, foram autorizadas construções inclusivamente dentro da área principal do campo de batalha, e permitidos usos totalmente contraditórios com a dignidade deste lugar, único e insubstituível.

Deste modo e devido à falta de atenção prestada à importância deste local por diversas entidades oficiais, foram autorizadas construções neste campo de batalha, que prejudicaram a sua paisagem histórica e destruíram vestígios da Batalha, nomeadamente “fossos” e “covas do lobo”.

É bem elucidativo o conjunto de construções que existiam à data da classificação do Campo de Aljubarrota, ou seja, em 2001, de que apresentamos, em primeiro lugar, as casas existentes no local onde se colocou, durante a Batalha, a “Ala dos Namorados”:

Antigo perfil da Rua Prof. Henriques Guimarães
As mesmas casas vistas de outro ângulo
Do mesmo modo, no centro do Campo de Batalha, na Avenida Nuno Álvares Pereira, existem as seguintes casas:
Casas situadas no local onde se travou o combate principal
A cruz visível (à esquerda da imagem) representa o local onde Martim Gonçalves de Macedo salvou, em pleno combate, o Rei de Portugal, Dom João I.

Por outro lado, no local onde esteve D. João I durante a Batalha, encontra-se a seguinte construção:

Esta construção inclui uma taberna e uma venda de fogões.

Estes são exemplos de como, ao longo dos anos, se tratou este lugar histórico sem o cuidado que merecia. Para a degradação desta paisagem histórica, muito contribuiu a construção, em 1960, da Estrada Nacional n.º 1, que atravessou todo o planalto de São Jorge, constituindo uma verdadeira “cicatriz”, e dando origem, nas suas duas margens, ao aparecimento de inúmeros comércios e casas de habitação. Se este lugar histórico estivesse então já classificado, ter-se-ia certamente evitado esta degradação paisagística, encontrando um trajecto alternativo para esta estrada.

A Classificação do Campo de Aljubarrota

Como forma de atender à importância deste lugar e de proteger a sua paisagem, o Exército Português propôs, em 2001, a classificação do Campo de Batalha de Aljubarrota como Monumento Nacional. Esta proposta foi aceite pelo IPPAR, que desde logo deu início ao respectivo processo de classificação, através da Direcção Regional de Cultura do Centro.

Este processo de classificação prosseguiu depois com a publicação, em 2003, do limite da área, com as suas três componentes, a zona “non-aedificandi”, a área classificada e a ZEP – Zona Especial de Proteção (ver anexo 1).

Esta mesma área classificada é apresentada no mapa seguinte, evidenciando-se cada uma das três áreas:

Classificação do campo Militar de São Jorge, ou Campo da Batalha de Aljubarrota

O processo de classificação do Campo de Aljubarrota como “monumento nacional” ficou concluído com a publicação em Diário da República, 2ª Série, da Portaria n.º 426/2012, em 10 de setembro de 2012 (ver anexo 2).

Esta paisagem histórica pôde assim ser finalmente protegida.

Para a concretização deste objectivo será fundamental a aprovação do Plano de Pormenor e Salvaguarda de São Jorge, a ser elaborado essencialmente pela Câmara Municipal de Porto de Mós e pela Direcção Regional de Cultura do Centro. A Fundação Batalha de Aljubarrota não deixará, contudo, de dar o seu contributo para este importante Plano.

A Paisagem e o Papel da Fundação Batalha de Aljubarrota

Tendo o processo de classificação sido iniciado, em 2001, pelo Ministério da Cultura, o Senhor António Champalimaud entendeu patrocinar, em 2002, a constituição da Fundação Batalha de Aljubarrota, com o intuito de prestar um contributo decisivo para a recuperação e promoção deste lugar histórico.

A Fundação procurou assim, desde 2002, através de um trabalho conjunto com o Ministério da Cultura, alterar a situação de abandono em que se encontrava este Campo de Batalha, implementando também as condições necessárias que justificassem a visita do público.

A Fundação Batalha de Aljubarrota adquiriu também, desde então, alguns terrenos e imóveis situados dentro da área classificada do Campo de Batalha de Aljubarrota, com vista a recuperar, tanto quanto possível, a paisagem existente no ano em que se verificou a Batalha, ou seja, em 1385.

Este procedimento da Fundação reveste um verdadeiro serviço público, na medida em que depois de adquiridos, estes imóveis são demolidos e a respetiva paisagem é recuperada, sendo seguidamente os respetivos terrenos colocados à disposição do público visitante. É um investimento que não tem retorno financeiro, na medida em que os imóveis, depois de adquiridos, são demolidos.

Exemplo de demolição de um imóvel que se encontrava localizado na parte principal deste Campo de Batalha
A este respeito é bem visível a diferença entre as duas seguintes fotografias, relativas ao local onde se localizou, durante a Batalha de Aljubarrota, a Ala dos Namorados:
Paisagem existente em 2018, com diversas casas.
Paisagem atual do terreno com apenas uma casa.
Subsiste apenas uma casa que esperamos, em breve, poder adquirir e demolir, o que permitirá a reposição integral desta parte fundamental do Campo de Batalha, onde esteve situada a Ala dos Namorados. É a este respeito importante apresentar o mapa cadastral do local onde se verificou a parte principal da Batalha de Aljubarrota, referindo as propriedades que pertencem, em 2020, ao Estado Português e à Fundação Batalha de Aljubarrota:

Para essa recuperação paisagística, foram também utilizadas as descrições da paisagem efectuadas pelo cronista medieval, Fernão Lopes que indica, nomeadamente, a existência de uma planta denominada “urze”, que se pode ainda encontrar nos dias de hoje. Nos terrenos do Estado e da Fundação procuraram-se repôr as espécies vegetais da época da batalha, com base nos resultados das análises polínicas, dos dados fornecidos pela botânica e pelas descrições cronísticas, que destacam as urzes existentes neste campo. As análises polínicas referem plantas espontâneas deste local, algumas de linha de água, como o Salgueiro (Salix) e o Amieiero (Alnus glutinosa) e, mais uma vez, as urzes. A associação fitossociológica deste local é dominada pelo Carvalho-português (Quercus faginea), embora se encontrem também muitos elementos da lista do Sobreiro (Quercus suber).

Deste modo, no inicio de 2019, foi revisto o projeto de arquitetura paisagística “Espaços exteriores de parcelas envolventes ao CIBA”, que inclui os espaços exteriores dos terrenos que têm vindo a ser adquiridos junto ao CIBA. A sua revisão prendeu-se com o facto de terem sido adquiridos mais terrenos pela Fundação, que foram integrados no projeto original.

Este projeto de arquitetura paisagística (peças desenhadas, memória descritiva, estimativa orçamental e medições), foi oficialmente apresentado, no inicio de 2019, á Câmara Municipal de Porto de Mós e à Direção Geral do Património Cultural, tendo sido obtida a aprovação destas entidades em Setembro de 2020. Pôde a partir de então ser executado no terreno, consistindo a primeira fase na demolição das construções existentes (casas, muros, redes de infraestruturas). Será assim um projeto paisagístico a executar em 2020 e 2021, que irá aumentar, significativamente, a qualidade das visitas do público.

É também importante referir que o Planalto de São Jorge, na área onde se verificou a parte principal do combate da Batalha de Aljubarrota, não sofreu até hoje, felizmente, grandes modificações. É assim possível, no essencial, restabelecerem-se as condições da paisagem existente no ano da Batalha.

Os terrenos adquiridos pela Fundação não têm um fim produtivo (agrícola ou florestal) mas sim um fim pedagógico, lúdico e interpretativo, de modo a que os visitantes deste local histórico possam compreender, nos seus percursos, a importância que esta paisagem teve no desenvolvimento e sobretudo no resultado da Batalha de Aljubarrota. Não foi por acaso que D. Nuno Álvares Pereira, excecional estratega militar, escolheu estes terrenos para travar a batalha, pelo que se torna da maior importância repor a paisagem existente em 1385.

Sendo o campo de Aljubarrota um símbolo extraordinariamente importante para todos os portugueses, o trabalho de recuperação e dignificação deste lugar histórico, que foi palco de um acontecimento que permitiu que Portugal seja hoje um país livre e independente, deveria ter sido iniciado há já várias décadas, e não apenas em 2001.

A Fundação espera assim que em colaboração com o Ministério da Cultura e com a Câmara Municipal de Porto de Mós, seja possível concluir a recuperação da parte principal do Campo de Batalha de Aljubarrota, para beneficio de todos os portugueses. É uma orientação que crescentemente se realiza em todos os países da Europa e nos EUA, onde cada vez mais se procuram proteger e valorizar os locais de importância histórica relevante, que são também suscetíveis de serem visitados pelo público. Trata-se de uma proteção do património cultural, que beneficia não apenas a riqueza do País, mas também o número de locais associados ao turismo cultural.

Estamos certos que com uma boa oferta expositiva existente dentro do CIBA, associada à recuperação paisagística da parte essencial deste campo de batalha, se proporcionará a todos os visitantes, nacionais e estrangeiros, um conhecimento não só agradável como instrutivo, da forma como foi preparada e travada a Batalha de Aljubarrota. A recuperação paisagística deste lugar proporcionará também um aumento da qualidade de vida aos residentes da área classificada, na medida em que passarão a viver num local melhorado e sem usos que degradam a sua paisagem. Com estas duas vertentes, este lugar histórico será cada vez mais um destino de referência no turismo cultural em Portugal.

O Monumento Evocativo de Nuno Álvares Pereira

A Fundação interveio também no restauro e recolocação do monumento alegórico a Nuno Álvares Pereira, datado de 1957, da autoria de Raul Xavier.

O Monumento Evocativo de Nuno Álvares Pereira é um espaço cenográfico. Tem sido palco de actividades culturais ao ar livre, mas também de cerimónias cobertas (com recurso a tenda).

Monumento Evocativo de Nuno Álvares Pereira
Monumento Evocativo de Nuno Álvares Pereira