Diplomacia

As Relações entre Inglaterra e Portugal no século XIV

As Batalhas

O envolvimento da Inglaterra na História de Portugal, durante o período associado à Batalha de Aljubarrota (1385)

A Guerra dos Cem Anos, entre Inglaterra e França, começou em 1337. Uma vez iniciada esta guerra, o Reino de Castela tornou-se o principal aliado de França. Portugal, independente desde 1144, tinha no contexto desta guerra uma importante posição estratégica, já que representava o flanco oeste daquele conflito europeu.

Em 1367, D. Fernando torna-se rei de Portugal.Depois de 1369, D. Fernando envolve-se em três guerras com Castela, considerando-se com direito ao trono de Castela, já que ele era o bisneto de D. Sancho, o Valente, um antigo rei castelhano. Para este efeito, ele teve o apoio de vários nobres da Galiza. No contexto dessas guerras, em julho de 1371, D. Fernando assinou o Tratado de Tagilde com John de Gaunt, o duque de Lancaster, que era o terceiro filho de Eduardo III, o rei da Inglaterra.

Este Tratado foi a primeira aliança política e militar entre Portugal e Inglaterra, e criou as bases da aliança entre os dois países que ainda hoje existe. Sob este Tratado, Portugal ajudaria João de Gaunt a atacar Castela, por terra e mar, a fim de colocar sua esposa como a Rainha de Castela, e o Rei Português não teria direito às terras castelhanas. Em relação ao reino de Aragão, as suas terras pertenceriam a João de Gaunt ou a Portugal, dependendo de quem o conquistasse primeiro.

João de Gaunt era casado com D. Constanza, filha do antigo rei de Castela, D. Pedro I, e por isso considerava-se com direito ao trono de Castela. Ele também queria atacar Castela, pois o actual rei, D. Henrique II, havia morto o pai de sua esposa, D. Pedro I.

O Tratado de Tagilde provocou uma invasão de Portugal por Henrique II, rei de Castela, em 1372. Lisboa foi sitiada e parcialmente ocupada por um mês. Depois de várias negociações, o rei D. Fernando concordou em apoiar Castela e França, na Guerra dos Cem Anos.

No entanto, em 1380, D. Fernando fez um novo acordo com Edmund, o conde de Cambridge, filho de Eduardo III e, portanto, irmão do Príncipe Negro e do duque de Lancaster. Sob este acordo, D. Beatriz, a única filha de D. Fernando, casaria com Edward de Langley, o filho do conde de Cambridge. Isso permitiu que uma frota inglesa de 48 navios transportasse 1.000 arqueiros e 2.000 homens armados para Portugal, que desembarcaram em Lisboa em julho de 1381. Essa foi a primeira vez na história que a Inglaterra teve presença militar em Portugal. Com esses homens vieram não só Edmund de Cambridge e sua família, mas também capitães experientes da Guerra dos Cem Anos e várias figuras da corte inglesa. Este exército marchou para a fronteira de Portugal com Castela, no Alentejo e em julho de 1382, os exércitos portugueses e castelhanos ficaram face a face, perto do rio Caia. A Guerra dos Cem Anos foi muito evidente neste conflito, uma vez que o Rei Português era apoiado pelos ditos 3.000 guerreiros ingleses, e muitos cavaleiros e lacaios franceses apoiavam o rei castelhano, D. Juan I. Esta batalha não se realizou no entanto, como Castela concordou em devolver vários castelos e todos os prisioneiros portugueses. Em troca, D. Fernando concordou que sua única filha, D. Beatriz, se casaria com o rei de Castela. Este tratado não foi bem recebido pela força expedicionária inglesa, que esperava os benefícios de uma vitória militar. Também não foi bem recebido pelos portugueses, que viram a ameaça de uma possível união política com Castela. Devido a este tratado, a força expedicionária inglesa retornou a Inglaterra, em setembro de 1382.

No entanto um evento importante teve lugar neste período, uma vez que Nuno Álvares Pereira, que mais tarde se tornaria comandante do exército português, era então um soldado regular neste exército, e por isso pôde falar extensivamente com os soldados ingleses de quem aprendeu as técnicas usadas na Guerra dos Cem Anos, que incluiu a preferência por lutar a pé e não a cavalo, a escolha de um campo de batalha favorável, as instalações de obstáculos de defesa no solo e o uso extensivo de arqueiros. Nuno Álvares usaria mais tarde, com grande sucesso, estas técnicas durante a guerra contra Castela, que duraram 31 anos, entre 1383 e 1411.

Em 17 de maio de 1383, na cidade de Badajoz, devido ao Tratado de Salvaterra, ocorreu o casamento entre o rei de Castela, D. Juan I, então com 25 anos, com a princesa portuguesa, D. Beatriz, então apenas 10 anos.

O rei D. Fernando morre em outubro de 1383. Isso cria um período de incerteza política, pois a esposa do rei castelhano, D. Beatriz, seria a rainha de Portugal. Além disso, o rei castelhano começou a designar-se rei de Portugal. Com o apoio geral do povo português, D. João, Mestre de Avis e irmão de D. Fernando, procuraram impedir a união dos reinos de Portugal e Castela, e tomaram posse de várias cidades, como Lisboa e Porto. Consciente desta inquietação, o rei de Castela, D. Juan I, invadiu Portugal, em janeiro de 1384, para conquistar o trono português.

Sabendo que suas forças militares ainda eram pequenas, Mestre de Avis tentou novamente formar uma aliança com a Inglaterra. Mestre de Avis sabia que a frota castelhana apoiava a França na Guerra dos Cem Anos, e que seria importante para a Inglaterra manter os portos portugueses abertos aos navios ingleses.Neste contexto, Portugal poderia ser um importante aliado da Inglaterra, nomeadamente devido à sua forte frota militar.

Assim, ainda em dezembro de 1383, D. João Mestre de Avis, após ser eleito Regente e Defensor do Reino de Portugal, decide enviar uma embaixada para a Inglaterra, que navega em fevereiro de 1384 em dois navios, compostos por Lourenço Martins, o inglês Thomaz Daniel, Fernando Albuquerque e Lourenço Eanes de Fogaça. Portugal tinha então um tratado assinado com a Inglaterra, o Tratado de Tagilde, desde 1372. Oito dias depois eles chegaram a uma aldeia inglesa chamada Preamua, seguindo para Londres a cavalo, onde são recebidos pelo rei Ricardo II e pelos nobres da corte. O rei da Inglaterra, em seguida, ordena um conselho na cidade de Salisbury, onde os emissários portugueses poderam apresentar as suas demandas. O Duque de Lancaster também se juntou a esta reunião, depois de retornar de França onde estava participando na Guerra dos Cem Anos. Em seguida, os emissários portugueses pediram ajuda na guerra contra Castela, referindo que Portugal apoiaria, em termos políticos e militares, as reivindicações do Duque de Lancaster ao trono de Castela. O Rei da Inglaterra decide então escrever uma carta a D. João, Mestre de Avis, referindo que a Inglaterra permitirá o recrutamento de arqueiros e homens armados, que devido à guerra que a Inglaterra tem com a França, não seria concedido a outro país.

Os emissários portugueses conseguiram, em maio de 1384, recrutar cerca de 800 arqueiros e homens armados, que chegaram a Portugal em abril de 1385, pouco antes da batalha de Aljubarrota. Para o pagamento destas contribuições de recrutamento também vieram outros ingleses, como o prefeito de Londres, Mosse Nicoll e o cavaleiro Henry Bivembra, que concedeu 3.500 nobres, bem como outros englisman de acordo com suas capacidades financeiras.

No final de 1384, quatro experientes ingleses também foram contratados por Portugal. Eram Elie de Blythe, Robert Grantham, Peter Cressingham e Reginald Cobham.

No entanto, desde que ele queria tomar posse imediata do reino Português, D. Juan I de Castela, quebrara os termos do Tratado de Savaterra, onde afirmava que a sua esposa só poderia tornar-se rainha com a idade de 14 anos, decidindo invadir Portugal em janeiro de 1384. Devido à invasão castelhana de Portugal, Lisboa foi sitiada pelo exército e frota castelhana, entre maio e setembro de 1384. No entanto, devido à resistência portuguesa, o exército castelhano voltou para casa em setembro. Durante 1384 e 1385, várias batalhas ocorreram entre os exércitos portugueses e castelhanos, em diferentes partes de Portugal e Castela. Nestas batalhas, um brilhante comandante português, Nuno Álvares Pereira, foi sempre bem-sucedido.

Em abril de 1385, os mercenários ingleses finalmente chegaram a Portugal. De acordo com um estudo conduzido pelo Prof. A. Stott Howorth, em 1960, esses mercenários eram principalmente das classes sociais média e baixa, alguns deles com motivos para deixar a Inglaterra. No entanto, eram guerreiros experientes, que já haviam lutado em Portugal ou em França. Transportados em quatro navios, partiram de Plymouth no dia 24 de março. Os navios pertenciam a um armador de Dartmouth, Edmund Arnald, e também transportavam trigo e carne de porco para o fornecimento dos homens armados ingleses. Atracaram nos portos do Porto, Lisboa e Setúbal. Embora os dois navios que chegaram a Lisboa fossem atacados por doze galeras castelhanas, os soldados ingleses puderam desembarcar e juntar-se ao exército português.

Ao todo, esse transporte incluiu 650 homens, dos quais aproximadamente 450 eram arqueiros e 150 homens armados. Devido a uma investigação realizada em 1959 por Sir Peter E. Russell, da Universidade de Oxford, hoje é possível saber os nomes desses ingleses, através de um documento chamado “Public Record Office”, escrito no século XIV.

Este grupo de soldados ingleses estava de acordo com o acordo assinado, em 1384, entre os emissários de Mestre de Avis e Ricardo II, rei da Inglaterra. Devido a este acordo, Portugal também enviou seis galés ao rio Tâmisa, a fim de proteger Londres de um possível ataque castelhano. Esses navios tinham 40 metros de comprimento, 7 de largura e aproximadamente 260 homens a bordo, incluindo remadores e homens armados. Esses navios portugueses logo destruíram vinte e quatro navios mercantes franceses, mostrando a sua mobilidade superior e poder militar. Esta vitória naval portuguesa foi um dos principais motivos da aliança assinada, em 9 de maio de 1386, entre Portugal e Inglaterra, que foi denominada Tratado de Windsor.

Os mercenários ingleses chegaram a Portugal no mesmo mês em que Mestre de Avis foi eleito rei, nas Cortes de Coimbra. A força militar inglesa chegou a Portugal justamente quando era mais necessária, pois já se sabia que haveria outra invasão castelhana, e que uma ocasião decisiva ocorreria no conflito militar entre Portugal e Castela.

Estes mercenários participaram, muito provavelmente, em maio de 1385, na campanha do norte de Portugal, conduzida por D. João I, nomeadamente na conquista dos castelos de Braga e de Ponte de Lima.

Em junho de 1385, D. Juan I de Castela invade Portugal, através da cidade da Guarda, com um exército de 42.000 homens. Este exército incluia 2.000 cavaleiros franceses, que o rei castelhano recebeu de França, como resultado de seu envolvimento na Guerra dos Cem Anos.

O Conselho de Guerra de Portugal realizou uma reunião, no dia 8 de agosto, em Abrantes, a 100 Km de Lisboa, para discutir sua estratégia. Nuno Álvares Pereira argumentou que uma batalha decisiva deveria ser forçada, já que Lisboa não seria capaz de sustentar o cerco de um exército castelhano tão forte. Ele declarou que a ajuda dos arqueiros ingleses seria um factor importante. Embora um acordo imediato não tenha sido alcançado, os portugueses decidiram, dois dias depois, travar uma batalha decisiva contra os castelhanos.

O exército português, composto por cerca de 9.000 homens, avançou para os campos de Aljubarrota, a fim de interceptar a marcha do exército castelhano em direcção a Lisboa. A maioria, se não todos os mercenários ingleses então presentes em Portugal, participaram nesta marcha. O exército português, acampa 12 de Agosto, fora da vila de Porto de Mós, e a 14 de Agosto de 1385, está nos campos de Aljubarrota, onde a batalha decisiva estava para acontecer.

Todos os arqueiros ingleses foram posicionados na ala direita avançada do exército português, para almejar o avanço da cavalaria francesa e do exército castelhano. O efeito das suas flechas foi extremamente importante durante a batalha, uma vez que eles poderiam atingir o inimigo dentro de um alcance de 350 metros. Cada um desses arqueiros ingleses conseguia lançar 12 flechas por minuto. Como os arqueiros que estavam presentes em Aljubarrota eram todos muito experientes, podemos concluir que cerca de 600.000 flechas foram libertadas por estes na Batalha de Aljubarrota. Isso teve um efeito muito significativo no resultado da batalha, uma vez que essas flechas atingiram os cavalos e os homens no avanço do exército franco-castelhano, sem distinção. Os arqueiros ingleses e homens armados também desempenharam outro papel importante na batalha. Assim que os castelhanos romperam a vanguarda portuguesa, os arqueiros ingleses e homens armados abandonaram as suas posições iniciais, e empenharam-se na luta corpo a corpo com os homens armados castelhanos. Através de uma dura batalha, e em conjunto com os portugueses, conseguiram eliminar e expulsar todos os castelhanos que iam chegando.

Também deve ser dito que a táctica usada pelo exército português, liderada por Nuno Álvares Pereira, foi grandemente influenciada pela guerra inglesa da Guerra dos Cem Anos. Com efeito, durante os períodos anteriores da Idade Média, as batalhas eram decididas por cargas de cavalaria pesada. Após o século XIV, os ingleses introduziram a táctica de escolher bem o terreno, esperando o inimigo com todos os homens a pé, construindo obstáculos como buracos, árvores cravadas no chão e valas, e aproveitando os milhares de flechas lançadas pelos arqueiros. O comandante Português aprendeu bem esta nova estratégia do exército britânico, enquanto era apenas um soldado no reinado de D. Fernando. Com efeito, enquanto vivia com o exército do conde de Cambridge, durante os anos de 1381 e 1382, Nuno Álvares Pereira pôde discutir esta nova estratégia e analisar a sua eficácia. Na Batalha de Aljubarrota aplicou-a com perfeição.

Foi também devido à experiência adquirida na Guerra dos Cem Anos,que alguns desses homens armados ingleses, presentes na Batalha de Aljubarrota, aconselharam o rei de Portugal a parar de perseguir os castelhanos em fuga nos últimos momentos da batalha. Com efeito, continuar a perseguir o inimigo poderia expor o exército português a um perigoso contra-ataque castelhano. Por isso, considerou-se mais adequado permanecer na posição inicial e assegurar uma vitória portuguesa.

Depois de ver o seu exército derrotado, D. Juan I, rei de Castela, regressou a casa por mar.O resto do exército retornou a Castela por diferentes rotas. Nunca mais o rei de Castela conseguiria organizar um exército tão grande e invadir Portugal.

O resultado da Batalha de Aljubarrota possibilitou uma forte e duradoura aliança entre Portugal e Inglaterra. Com a notícia desta vitória, os embaixadores portugueses, que estiveram em Inglaterra durante um ano, puderam então propor à Corte Inglesa, uma vasta aliança política e militar com o mais ocidental dos países europeus – Portugal. Tendo legítimo direito ao trono castelhano, John de Gaunt, duque de Lancaster, obteve então permissão do rei da Inglaterra, Ricardo II, para preparar uma grande expedição militar à Península Ibérica, em coordenação com o rei português.

Em maio de 1386, os dois reinos assinaram, em Windsor, um famoso tratado, o Tratado de Windsor, que foi seguido, alguns meses depois, pelo casamento do rei português D. João I com a filha de John de Gaunt. D. Filipa de Lancaster. D. Filipa era então prima directa do rei da Inglaterra, Ricardo II. Sob este Tratado, os dois países defenderiam-se mutuamente, em caso de ataque, e o comércio entre os países seria promovido.

Gravura do casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre
Casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, no Porto, em Fevereiro de 1387

Como mencionado anteriormente, a Inglaterra estava então fortemente envolvida na Guerra dos Cem Anos e estava ciente da importância do flanco oeste da Europa. Portugal poderia ser uma base muito eficaz para um forte ataque contra Castela, que foi o mais importante aliado francês durante a Guerra dos Cem Anos. Além disso, Ricardo II reconheceu a capacidade naval dos portugueses, e não subestimou a vantagem que isso poderia oferecer ao enfrentar, em águas francesas ou inglesas, as galeras que Castela colocava à disposição da França.

Depois da Batalha de Aljubarrota, D. João I, rei de Portugal, conquistou vários castelos no norte de Portugal, que ainda eram leais a Castela. No entanto, percebeu que para consolidar sua vitória, ele precisaria de manter a pressão militar sobre o Reino de Castela. Assim acordou em apoiar a expedição de João de Gaunt, o duque de Lancaster, a Castela. Como mencionado anteriormente, John de Gaunt era casado com D. Constanza, a filha do ex-rei de Castela, D. Pedro I, e considerou que poderia reivindicar o trono castelhano, para o qual teria o apoio do exército Português. Esta invasão de Castela foi também uma consequência do acordo assinado entre Portugal e Inglaterra, em Março de 1384, que afirmava que Portugal apoiaria uma possível campanha militar de John de Gaunt em Castela.

Em julho de 1386, João de Gaunt desembarcou no norte de Castela, na Corunha, liderando uma frota de 100 navios, 12 dos quais portugueses. Seu exército era de 7.000 homens de armas. Dirige-se a Portugal e encontra-se com o rei Português, na Ponte do Mouro, perto de Monção. Para esta ocasião, João de Gaunt instalou aproximadamente cem tendas em redor desta ponte, com as cores da Inglaterra e da família Lancaster.

Gravura de jantar do Duque de Lencaster João de Gante, com D. João I, o Rei de Portugal
O Duque de Lencaster, João de Gante, janta com o Rei de Portugal, D. João I

Concordaram não só numa invasão conjunta de Castela, mas também no casamento de D. João I, rei de Portugal, com Filipa de Lancaster, filha de João de Gaunt. Se a conquista de Castela fosse bem sucedida, João de Gaunt daria a Portugal partes de Castela, situado perto da fronteira com Portugal, que incluía um território de 80 km de largura e 350 km de comprimento, desde a província portuguesa de Trás os Montes até o Alentejo no sul.

Mapa do território concedido a Portugal pelo Tratado de Ponte de Mouros
Território concedido a Portugal pelo Tratado de Ponte de Mouros

D. João I casou-se com Filipa de Lancaster no Porto, em Fevereiro de 1387. Após esta cerimónia, e o recrutamento das tropas necessárias, a invasão conjunta de Castela começa em Março de 1387. O exército anglo-português era composto por 12.000 homens, dos quais 3.000 cavaleiros, 2.000 homens de besta e 3.000 soldados de infantaria eram portugueses.

O exército anglo-português tomou algumas aldeias pequenas no norte de Castela, perto de Zamora e Salamanca, entre março e junho de 1387. No entanto, o rei castelhano, D. Juan I, que foi acompanhado e aconselhado pelas tropas francesas enviadas por Carlos VI, evita uma batalha directa, preferindo ficar dentro dos seus castelos. Também ordena que se queimem os campos para impedir que o exército anglo-português obtivesse alimentos. Os castelhanos frequentemente atacavam o exército anglo-português com guerra de guerrilha. O duque de Lancaster escreve então uma carta a D. Juan I referindo que teria o direito de ser rei de Castela, já que sua esposa era filha do rei anterior, D, Pedro I. D. Juan I responde a esta carta dizendo o Duque de Lancaster foi mal informado, já que ele mesmo era o verdadeiro rei de Castela.

Faltando sucesso militar, e tendo dificuldade em alimentar suas tropas, John de Gaunt optou por negociar com o rei castelhano, e retornou a Portugal, para a aldeia de Trancoso, no início de junho de 1387. Esse acordo afirmava que Catalina, filha de João de Gaunt e Constanza, casariam com o filho mais velho do rei castelhano, D. Henrique, tornando-se, portanto, rainha de Castela. Além disso, o rei castelhano pagou a John de Gaunt uma compensação significativa. Para tomar voz por este acordo na cidade de Bayonne, João de Gaunt embarca com a sua frota no Porto, em Setembro de 1387.

Mapa do itinerário da invasão anglo-portuguesa de Castela em 1387
Itinerário da invasão anglo-portuguesa de Castela, em 1387

A campanha castelhana, embora não obtivesse grande sucesso militar, ajudou Portugal a manter o exército castelhano sob pressão e impediu o rei castelhano de tentar invadir Portugal novamente. Após os mesmos anos de combates, que incluíram a Batalha de Valverde, no interior de Castela, o acordo de paz foi finalmente assinado em 1411. Portugal assegurou a sua independência.

Logo depois, Portugal começa os preparativos para a conquista de Ceuta, uma grande cidade árabe no norte da África. Filipa de Lancaster encorajou e foi muito a favor desta iniciativa. Através do uso de uma frota de aproximadamente 240 navios, incluindo “naus” e galeras, Ceuta foi tomada em 1415. A expansão marítima portuguesa tinha começado.

As relações entre Portugal e Inglaterra melhoraram nos anos seguintes. Vários factores contribuíram para esse processo. Em primeiro lugar, em termos políticos e militares, a Guerra dos Cem Anos ainda estava em evolução e só terminou em 1453, o que encorajou os dois países a cooperarem contra os seus inimigos, Castela e França. Em segundo lugar, as relações económicas e comerciais aumentaram, devido a uma forte presença naval, baseada nos portos de cada país. Em terceiro lugar, o casamento de D. João I, rei de Portugal, com um membro da família real inglesa, também facilitou as relações entre os dois países. Um exemplo disso foi a condecoração concedida por Henrique IV, rei da Inglaterra, a D. João I, no dia 23 de abril de 1409, no Castelo de Windsor. D. João I recebeu as maiores insígnias inglesas, que nunca tinham sido dadas a estrangeiros antes.

Também é importante valorizar o trabalho realizado em Portugal, pela Rainha Filipa de Lancaster. Ela era muito gentil, instruída e tinha um carácter forte. Como Rainha de Portugal, melhorou e aumentou vários edifícios e monumentos, como o Palácio de Sintra, o Mosteiro da Batalha e o Palácio dentro do Castelo de Leiria. D. Filipa também ajudou o marido em várias cerimónias e até presidiu as mesmas reuniões oficiais. Quando o marido se afastou em funções oficiais, D. Filipa assumiu muitas vezes o papel de regente, devido ao seu bom senso e sabedoria. Ela deu muita atenção à educação dos seus filhos, mesmo usando alguns professores ingleses. O resultado foi que seus filhos se tornaram extremamente instruídos, em áreas como matemática, física, literatura ou idiomas, tendo-se tornado pessoas muito criativas e eficientes ao longo de suas carreiras profissionais. Este facto ficou patente no reinado de D. Duarte, que se tornou rei em 1433. A excelente formação dada aos filhos de D. João e D. Filipa contribuiu certamente para o bom governo que Portugal teve nas décadas seguintes. Isso ficou evidente com os filhos D. Pedro e D. Henrique, o navegador, responsável por organizar o início da expansão marítima portuguesa no mundo.

A Batalha de Aljubarrota marcou um período de ouro para Portugal e Inglaterra e criou a base para uma forte aliança entre os dois países. Devido a esse período, ambos os países se tornaram aliados nos séculos seguintes, como foi o caso da Guerra da Restauração de Portugal contra a Espanha (1640 -1667), nas Guerras Napoleónicas (1789 – 1815), na Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). ) e na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945). Além da aliança militar, desde 1385, ambos os países conseguiram estabelecer uma relação aberta e de confiança, tanto no campo político quanto no económico, que ainda hoje prevalece.

O resultado da Batalha de Aljubarrota foi um dos eventos mais importantes da História de Portugal. Permitiu que este país se tornasse livre e independente, assegurou o início da segunda dinastia portuguesa, a Dinastia Avis, e possibilitou a preparação do mais brilhante período da história nacional, o período dos Descobrimentos Marítimos.

Aljubarrota conferiu, portanto, directa e indirectamente, uma nova dimensão à História de Portugal e ao próprio Mundo, com uma influência extraordinária que perduraria ao longo dos séculos, ou seja, a expansão marítima portuguesa que começou em 1415 com a conquista de Ceuta no norte da África, mudaria o mundo para sempre.Com a sua participação relevante nos eventos deste período, bem como na Batalha de Aljubarrota, a Inglaterra contribuiu significativamente para os resultados alcançados com sucesso, e associou-se, para sempre, à História de Portugal.