Campo de Batalha

Arqueologia

O trabalho da Fundação Batalha de Aljubarrota não se restringe à valorização do Centro de Interpretação, mas alarga os seus objectivos científicos a todo o terreiro de batalha, às “covas de lobo” e toda a sua envolvente como conjunto patrimonial, classificado como Monumento Nacional.

A Arqueologia

A análise das escavações existentes no campo de batalha de Aljubarrota iniciou-se no próprio dia da Batalha, ou seja, em 14 de Agosto de 1385. Com efeito, em três relatos seguidamente referidos, obtidos a partir de participantes na Batalha, foi possível obter a indicação de obstáculos artificiais escavados no solo, efectuados pelos portugueses. Em primeiro lugar, o Rei castelhano D. Juan I, pôde observar estes obstáculos no dia da batalha, que referiu 15 dias depois, numa carta que escreveu à cidade de Múrcia:
“Sabei que na 2ª feira, dia 14 de Agosto, tivemos batalha com aquele traidor, que pretende ser Mestre de Avis, e com todos os do Reino de Portugal que pela sua parte tinha, bem como com todos os outros estrangeiros, tanto ingleses como gascões, que com ele estavam, tendo a batalha decorrido desta maneira. Eles colocaram-se numa posição forte entre duas ribeiras, com uma profundidade de 15 metros, e quando a nossa gente chegou àquele lugar encontraram: em primeiro lugar troncos de árvores empilhados que protegiam os portugueses, e que nos davam pela cintura; em segundo lugar, em frente dos portugueses, uma vala escavada no chão, tão alta como um homem até à garganta. Apesar destas dificuldades, que foram avistados pelos nossos, decidiram atacar os portugueses e pelos nossos pecados fomos vencidos. Vendo a nossa gente desbaratada fugi para Santarém e daí de barco para a nossa frota em Lisboa e depois para Sevilha”

É bem patente a referência do Rei castelhano a “uma vala escavada no chão” pelos portugueses, como parte do seu sistema defensivo.

Em segundo lugar, também o Dispenseiro da Rainha D. Leonor refere:

“O Mestre de Avis, que se intitulava Rei de Portugal, colocou o seu exército num terreno favorável, protegido em seu redor por troncos de árvores, tendo também sido feitos muitos buracos no chão cobertos por ramos de árvores”
Em terceiro lugar, Jean Froissart, falou com João Fernandes Pacheco que participou na Batalha, e que referiu:
“Entre nós e os castelhanos havia um grande fosso, não tão grande contudo que um cavalo o não pudesse transpor, mas que nos deu uma pequena vantagem”
Esta afirmação revela bem que antes da Batalha, os portugueses abriram uma vala transversal para proteger o seu exército, que embora não fosse muito grande, serviu para retardar o avanço dos franceses e castelhanos, expondo-os por maior tempo ás flechas e virotões do exército anglo-português.
Reconstituição do trajecto desta ribeira no local onde existiu, utilizando pedras de calcário e plantação de espécies vegetais existentes em cursos de água.
Pelo contrário, Fernão Lopes na sua crónica da Batalha, nada refere relativamente a estes obstáculos escavados no terreno, provavelmente com a intenção de engrandecer e enaltecer a bravura e a vitória dos portugueses.

Anos 50 – Afonso do Paço

Existindo assim dúvidas quanto á existência, ou não, destes obstáculos, o Exército Português optou por, em 1950, implementar trabalhos de arqueologia no Campo de Aljubarrota, que permitissem esclarecer esta importante questão. Desta forma, numa nota de Fevereiro de 1950, o Estado Maior do Exército dava a conhecer à Comissão de História Militar que se devia proceder a um estudo da “campanha de 1385”, por forma a se poder definir uma versão verdadeira dos factos, depois de esclarecidas as dúvidas e as opiniões opostas e divergentes que têm existido sobre a Batalha de Aljubarrota.

Perante as divergências sobre a existência, ou não, de uma organização defensiva significativa construída pelos portugueses, impunha-se a necessidade de se promoverem escavações no campo de batalha.

Para dar cumprimento a este propósito, constituiu-se dentro da Comissão de História Militar, um agrupamento formado pelos vogais Tenente-Coronel Botelho da Costa Veiga e Capitão Gastão de Matos, para realizar o referido trabalho. Para conduzir a escavação acharam que era necessário um arqueólogo, tendo a escolha recaído no Tenente-Coronel Manuel Afonso do Paço.

Sobre as escavações efectuadas escreveu, em 1965, Afonso do Paço:

“Nos finais de Maio de 1958, tínhamos posto a descoberto um curioso fosso que corria a Norte e Leste da Capela de São Jorge, numa extensão aproximada de 182 metros, dos quais uns 150 metros orientados na direção N-S (Figura 3, A); este fosso apresentava quatro ramais diferentes. No Outono posemos a descoberto umas 40 filas de “covas do lobo”, com extensões aproximadas de 60 e 80 cm cada (Figura 3, C), dispostas em espinha sobre um fosso situado no terço superior do conjunto (Figura 3, D).

O mapa seguidamente apresentado tem como referência a Capela de São Jorge, assinalada com uma cruz.

Estávamos perante uma área esplendidamente fortificada, com a profundidade de cerca de 300 metros, que ocupava o flanco esquerdo da posição do hoste portuguesa, onde havíamos reconhecido umas 830 “covas do lobo”
É possível analisar, nas seguintes duas fotografias, algumas das descobertas arqueológicas obtidas por Afonso do Paço, nos trabalhos que realizou em Aljubarrota entre 1958 e 1960:
Conjunto de “covas do lobo” situadas em frente da vanguarda portuguesa (imagem Afonso do Paço)
Parte interior do ramo C do “grande fosso” (imagem Afonso do Paço)

Os trabalhos de Afonso do Paço tiveram assim enorme importância pois permitiram esclarecer, definitivamente, que os obstáculos artificiais construídos pelo exército de Nuno Álvares Pereira na véspera da batalha, desempenharam um papel determinante no retardamento do avanço da infantaria castelhana e sobretudo da cavalaria francesa e castelhana, contribuindo assim significativamente para o sucesso dos portugueses. Estes trabalhos permitiram também a descoberta de uma vala comum, onde foram encontrados os ossos de 414 castelhanos e franceses. É um trabalho que não está, contudo, ainda terminado, e que será realizado á medida que a Fundação Batalha de Aljubarrota for adquirindo terrenos situados na zona de combate desta batalha.

Nas seguintes fotografias vemos Afonso do Paço no Campo de Aljubarrota, descrevendo os resultados obtidos nas escavações.

Afonso do Paço que aparece como a primeira figura à esquerda, juntamente com o historiador inglês Peter Russell, que identificou os nomes dos arqueiros ingleses que participaram na Batalha de Aljubarrota (imagem Arquivo Histórico Militar)
O Cor. Afonso do Paço apresentando a entidades oficiais os resultados da campanha arqueológica. (imagem Arquivo Histórico Militar)

Referiu Afonso do Paço, em 1961, que nos fossos e em várias covas do lobo foram encontradas muitas pedras de calcário, que não existindo na região, significa que foram, com toda a probabilidade, utilizadas pelos portugueses na Batalha, atirando-as contra os cavaleiros e homens a pé castelhanos, quando se aproximaram do exército português. Referiu também que embora tenha encontrado 830 covas do lobo, deveriam existir certamente muitas mais, não só porque há muitos terrenos que não foram escavados por não pertencerem ao Estado, mas também porque se trabalhou apenas no lado esquerdo do Campo de Batalha, tendo ficado todo o lado direito por explorar.

Por outro lado, afirmou Afonso do Paço que “não há fossos ou duas covas do lobo iguais em cumprimento ou profundidade, o que parece indicar que foi tudo escavado muito depressa. Também se verificou, mediante um exame minucioso, que no fundo das covas do lobo não havia o menor indício de estacas cravadas no terreno.”

Mostrou também Afonso do Paço a sua preocupação pelo enorme trabalho arqueológico que, em 1960, ficou por realizar no Campo de Aljubarrota, que seria indispensável continuar no futuro. Referiu concretamente: “Em Aljubarrota, dizemo-lo mais uma vez, já não podemos parar. O brio nacional impõe que se continue, e bem, naquilo que em boa hora e com excelentes resultados se começou. Somos também da opinião que todas as obras que se realizem no Campo de Batalha devem ser precedidas de um reconhecimento histórico do local.”

Uma vez que nada existia no Campo de Aljubarrota, em 1961, alusivo a esta batalha, sugeriu ainda Afonso do Paço: “Deveria aí ser colocada uma maquete, em cimento, ao ar livre, que elucidaria o visitante sobre quanto ali se encontrou. Isto deveria ser completado com um pequeno museu local de assuntos relacionados com a Batalha de Aljubarrota, com as escavações e com a importância do que foi aí encontrado”.

A este respeito é com enorme satisfação que a Fundação Batalha de Aljubarrota verifica ter conseguido concretizar um dos grandes desejos de Afonso do Paço, ao ter construído e inaugurado, em 2008, o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, onde se colocaram os achados arqueológicos encontrados não só por Afonso do Paço, mas também pelos trabalhos realizados nos anos seguintes.

Referiu ainda, em 1961, Afonso do Paço:

“Há neste momento, no campo de batalha, um conjunto de problemas em suspenso, que se forem tratados por quem não os entenda, por quem não tenha uma sensibilidade de Aljubarrota, sensibilidade que só dá o muito lidar com Aljubarrota, poderão ser irremediavelmente destruídos. (…)”

“(…) E para concluir, atrevemo-nos a perguntar, se não merece Aljubarrota que cuidemos dela a sério, neste ano do 6º centenário de génio militar que neste local conduziu a nossa reduzida hoste à vitória, vitória que nos conservou a independência, nos deu a Índia e o Brasil de que tanto nos orgulhamos, e abriu ao Mundo as portas da Idade Moderna.”

Anos 80

Mais tarde, em 1985, Fernando Severino Lourenço estuda a morfologia e composição do terreno do campo de batalha, suscitando algumas dúvidas de carácter temporal, nomeadamente, se um dos grandes fossos, teria sido construído antes ou depois da Batalha. Com efeito, Fernão Lopes tinha relatado trabalhos de vigilância e reforço das defesas do acampamento português, nessa mesma noite de 14 de Agosto, a fim de enfrentar uma nova possível ofensiva do exército castelhano.

Anos 90

Em 1999, Helena Catarino, em colaboração com o Prof. João Gouveia Monteiro, a partir de um apoio concedido pelo Governo Civil de Leiria, alargaram a área de intervenção arqueológica, com o intuito de compreender qual a dimensão e disposição das estruturas defensivas no campo de batalha de Aljubarrota, mais propriamente no flanco central das tropas portuguesas. Foi para esse efeito obtida a autorização do proprietário do terreno agrícola n.º 69, Sr. Joaquim Luís Monteiro, para a realização das escavações. Descobriram-se então mais obstáculos artificiais realizados pelos portugueses em 1385, antes ou mesmo depois da Batalha, confirmando-se que todo o conjunto de fortificações formaria uma espécie de funil, fazendo com que a frente da batalha se resumisse a escassas centenas de metros.

Desta forma, e a poente da Capela de São Jorge, foi descoberto o tramo de um novo fosso com uma orientação sudoeste-noroeste, situado em frente do local onde se localizou a vanguarda portuguesa, como se pode observar nas seguintes imagens:

Fosso situado em frente da parte central da vanguarda portuguesa
Foram também aí descobertas nove “covas do lobo”, com dimensões médias de 56 cm de comprimento e 44,2 cm no fundo. Estes novos achados indicam claramente a probabilidade de se descobrirem novas covas do lobo e fossos, em futuros trabalhos de arqueologia.

Anos 2000 – Fundação Batalha de Aljubarrota

Os notáveis trabalhos de arqueologia realizados entre 1958 e 1999, foram depois continuados pela Fundação Batalha de Aljubarrota, a partir do momento da sua constituição em 2002. Desta forma, entre 2005 e 2007, a Fundação apoiou uma nova campanha arqueológica, realizada por uma equipa chefiada pela Dra. Maria Antónia Amaral, que confirmou que o sistema defensivo de inspiração anglo-saxónico se prolonga para o lado Norte, com um fosso construído já depois da batalha, para resistir a um possível novo avanço das tropas castelhanas. Para se evitar a destruição deste “fosso”, foi o mesmo incorporado no interior do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, que seria construído entre 2006 e 2008, tendo sido protegido e consolidada a estrutura deste fosso.

Apresentamos seguidamente uma fotografia que mostra o novo fosso que foi descoberto antes das obras de construção do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, junto ao antigo Museu Militar, e que pode hoje ser observado pelo público visitante deste Centro.

Fosso que foi encontrado no exterior do antigo Museu Militar em 2006, e que foi posteriormente incorporado no Centro de Interpretação.
Nos trabalhos de 2005 a 2007, foi também inventariado e tratado todo o material numismático, cerâmico e osteológico encontrado.

Anos 2010 e Actualidade

Apesar dos trabalhos de arqueologia já realizados, existem importantes partes do Campo de Aljubarrota que estão ainda por explorar e investigar. Deste modo e com o apoio do Turismo de Portugal, foram desenvolvidos, entre 2018 e 2019, novos trabalhos de arqueologia, sob a orientação científica da Dra. Maria Antónia Amaral, que permitiu, nomeadamente, as seguintes conclusões:
(…) Uma das grandes questões levantadas pela investigação histórica e arqueológica aqui desenvolvida desde 1958, prende-se, sem dúvida, com o desconhecimento da arquitectura da fortificação do campo de batalha a que aludem as crónicas medievais, e da sua real dimensão. O que era esta fortificação, um recinto de madeira, um sistema de abatises e trincheiras, o que eram as covas de lobo e os fossos, que função tiveram estes obstáculos e como se relacionaram com os obstáculos naturais que a topografia do local oferecia, como depressões, barrancos, declives acentuados e linhas de água?

Responder a todas estas questões tornou-se um grande desafio, tanto maior se pensarmos nas limitações à investigação com que nos deparámos, nomeadamente o facto de, a priori, apenas termos autorização para sondar os terrenos propriedades do Estado Português e da Fundação Batalha de Aljubarrota. Condicionados em termos de áreas disponíveis para escavação, selecionámos 5 zonas localizadas em pontos cruciais do campo de batalha ou em zonas que, pela sua disponibilidade, nos poderiam ser úteis, do ponto de vista científico, para definir o perímetro da fortificação ou para caracterizar outras ocupações deste planalto que importa, também, considerar.

As duas áreas na zona Este do campo, a zona E e a zona D, localizam-se junto à capela e em zonas imediatamente contíguas ao grande fosso, onde os historiadores militares têm colocado a vanguarda, liderada por D. Nuno Alvares Pereira, e a ala esquerda do exército esquerda, onde se encontravam os arqueiros e besteiros. A zona Sul – área C e F – que corresponde ao epicentro da batalha, onde se terá dado o confronto, já foi em parte escavada, em 1958, por Afonso do Paço.

A área B, encostada aos vestígios arqueológicos referidos e onde era expectável que se identificasse o prolongamento do pequeno tramo de fosso e dos conjunto das covas do lobo; e a área A, localizada um pouco mais a Sul, junto à estrada municipal (atual Avenida D. Nuno Alvares Pereira), do lado oposto às covas do lobo, onde esperávamos, igualmente, identificar mais estruturas defensivas.

Destas cinco zonas seleccionadas para desenvolver este projecto trabalhámos, entre 20018 e 2019, as áreas A, B, C, E e a F, cujos resultados queríamos aqui partilhar.

Começando pelo resultado da escavação arqueológica da zona Este – área E -, onde escavámos cerca de 300 m2 de área distribuída por 7 sondagens, concluímos que a excessiva ação antrópica que a construção do Bairro da Rua Henrique Guimarães acarretou, destruiu qualquer evidência (se é que existiu neste sítio) da altura da batalha. Conseguimos, contudo, resgatar a modelação do terreno original comprovando-se que, neste ponto, o estreitamento do planalto, de que falam os historiadores medievais como tendo sido determinante no reequilíbrio da dimensão das frentes de batalha dos dois exércitos em confronto, era, afinal, ainda mais evidente e acentuado do que hoje se nos apresenta. A zona limite do planalto terá sido expandida para Este, a partir de meados dos séculos XX, por enchimento, aplanando e alargando este local no sentido Oeste-Este e disponibilizando, desta forma, aos novos habitantes deste bairro, mais terreno para a agricultura.

A área C, anteriormente escavada por Afonso do Paço, como acima referimos, foi objeto de cinco sondagens, com 10 metros por 10 metros, e duas mais pequenas, com 5 metros por 5 metros, a que corresponde cerca de 550 m2 de área intervencionada. Identificámos um conjunto considerável de estruturas, em negativo – covas do lobo e fossos -, que coincide, em parte, com o que foi representado cartograficamente, em 1958, mas identificámos uma estrutura inédita, um grande fosso, no extremo norte deste terreno. Esta estrutura, que corre no sentido Oeste-sudoeste/Este-noroeste, não aparece representada nos desenhos de Afonso do Paço, e parece-nos possível que venha a entroncar no grande fosso da capela de S. Jorge.

Resta-nos, por fim, a zona Oeste, onde depositámos tantas esperanças. Na área A, em frente à área C, onde esperávamos identificar um conjunto de dispositivos, em continuidade com os já registados em 1999, abrimos 2 sondagens com 10 metros por 5 metros, numa área total de 100 m2. Aqui se identificaram dois muros a perfazer um L e um pavimento em argamassa esbranquiçada, datáveis do período moderno, sem qualquer relação com a batalha. Na área B abriram-se 10 sondagens, quase todas contíguas, que ocuparam cerca de 400 m2. Foi a zona que mais resultados revelou: um conjunto significativo de estruturas em negativo constituído por 4 fossos e cerca de 28 covas do lobo. Os sedimentos das estruturas mais significativas, como o fosso de maiores dimensões, foram enviados para datação no Laboratório Beta Analytic, em Miami, na Florida, USA. Embora as datações não tenham sido todas concordantes com o período da batalha, os resultados das análises dos sedimentos correspondentes a duas amostras recolhidas em dois pontos do enchimento do fosso apontaram para uma data de 1390, mais ou menos 30 anos, que corresponde perfeitamente ao período da construção da fortificação ou do seu abandono (o que terá acontecido 3 dias após a batalha). Recolheram-se alguns objectos metálicos, ainda em estudo, que julgamos poder corresponder a armamento e elementos do vestuário compatíveis com o período da batalha. É possível, ainda, que este fosso, que podemos classificar, agora, como comprovadamente medieval, se relacione com os vestígios do grande fosso encontrados em redor da capela e, eventualmente, com o fosso inédito identificado na zona limítrofe Norte da zona das covas do lobo (área C). (…)”
Trabalhos realizados na área A (imagem FBA)
São possíveis observar os três locais a serem escavados, com uma cor acastanhada: um a norte da Capela (área A), outro à direita da Capela (área E) e a sul da Capela (áreas C e F) (Imagem FBA - Sergiy Scheblykin)

Por fim não podemos deixar de referir que o resultado desta investigação tem a bondade de contribuir, ainda, para o desejável crescimento da área expositiva do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota (CIBA) disponibilizando conteúdos novos e/ou em permanente actualização. Deve a este respeito ser salientado que nos trabalhos de 2019 foi descoberta uma ponta de lança utilizada na Batalha, que será colocada na área expositiva do Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.

Os trabalhos de arqueologia são assim uma componente essencial para o bom entendimento de como decorreu e se travou a Batalha de Aljubarrota. Apesar da destruição que se verificou de diversos obstáculos construídos pelo exército de Nuno Álvares Pereira devido á acção do homem, nomeadamente com a construção de casas e de estradas, sobreviveram seguramente muitos vestígios da Batalha, que trabalhos de arqueologia, em anos futuros, irão certamente descobrir. É assim uma tarefa essencial à qual a Fundação Batalha de Aljubarrota continuará a dar a maior importância e atenção.

Em 1961, Afonso do Paço afirmou que a paisagem do Campo de Aljubarrota deveria ser objecto de uma protecção, investigação e valorização séria, em função dos notáveis feitos que aí tiveram lugar, que asseguraram a nossa independência e a expansão marítima nos séculos seguintes.

Este desejo de Afonso do Paço continua hoje tão actual como em 1961, pois tendo chegado até nós uma parte intacta desta paisagem histórica, bem como importantes vestígios da Batalha, não seria compreensível para as próximas gerações, que não protegêssemos e valorizássemos, no presente e no futuro, este acontecimento único e decisivo da História de Portugal.

Esses objectivos essenciais incluirão, nomeadamente, o prosseguimento dos trabalhos de arqueologia, o melhoramento da oferta cultural do Centro de Interpretação e a realização de um Plano de Pormenor em 2021, que permita proteger, para sempre, a paisagem deste lugar histórico, único e insubstituível.